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Envolvido com a máfia

Ainda que eu more em um dos países mais seguros do mundo, não posso deixar de abrir um episódio sobre o meu envolvimento – involuntário – com aqueles capangas. Eles avistaram uma...

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Envolvido com a máfia

Ainda que eu more em um dos países mais seguros do mundo, não posso deixar de abrir um episódio sobre o meu envolvimento – involuntário – com aqueles capangas. Eles avistaram uma...

Fim de semana inesquecível

Ocorreu que num dia de verão, quando o sol já raiva forte daquele sábado, bateu apenas um sentimento: prefiro não dizer. Estávamos atravessando aquele belo e grande rio chamado Hii, dentro do fretado...

Ainda que eu more em um dos países mais seguros do mundo, não posso deixar de abrir um episódio sobre o meu envolvimento – involuntário – com aqueles capangas. Eles avistaram uma oportunidade e no exato momento me abordaram, sendo a minha única alternativa nada além de ceder.

Eu sabia serem da pesada. Todos os japoneses sabem quem são esses indivíduos, homens e mulheres, que muitas vezes ficam na espreita. De longe, até uma criança consegue reconhecer, porque são deveras distintos da sociedade, com aqueles seus carros barulhentos. Num piscar de olhos, ainda que você não faça nada de errado, eles te pegam e iniciam um processo que chamam “legal”.

Muitos dizem serem como famílias, com um cabeça que é protegido e dá as ordens. Se são famílias, não sei, mas que, sim, são vários grupos distritais inter-relacionados, não há dúvidas. Em cada distrito do Japão eles estão ali para controlar. No período Edo (1603 a 1868), quando as coisas saíam do controle nas cidades, eles apareciam para apaziguar e até ajudar as pessoas, com uma autoridade que claramente lhes havia sido conferida de alguém mais alto. Todos os respeitavam e os temiam.

Dizem que esses grupos estão diminuindo a cada ano. A verdade é que vejo crescer, e mais, cada vez mais fortes.

Como disse, um dia me abordaram. Um deles desceu do carro expondo deliberadamente uma arma em sua cintura. Seu comparsa desceu logo em seguida e veio em minha direção. Eles estavam vestidos iguais, mudando um detalhe ou outro.

Eu tinha acabado de fazer uma curva e, na mosca! Lá estavam eles. Foi lá que me pegaram. Ordenaram algo por um falante e passaram a me escoltar. Fui seguindo com o carro até algum trecho que pudesse parar. Estávamos tensos, porque eles nunca estão para papo, mas somente para agir.

Enquanto eu olhava pelo retrovisor aqueles sujeitos mal-encarados vindo em nossa direção, baixei o vidro e procurei manter a calma. Eu sabia que algo ruim aconteceria. É a coisa mais comum no Japão. Em contraste, eles são muito simpáticos e educados. Como bem a história do país documenta. Ele me dirigiu a palavra:

“Boa tarde, senhor”.

Pensei comigo, “É agora! É agora!”. Passei a tremer de nervosismo. “Boa tarde”, respondi cético.

“Para entrar naquele trecho só é permitido a partir das 19 horas. Das 16 às 19 horas a entrada é proibida, como informa a placa. Poderia me apresentar o seu documento de habilitação, por favor?”, pediu com simpatia. “Ah! É ouro, muito bem” (Quando a carteira de habilitação possui uma faixa dourada é conhecida como “ouro”, significa não haver multas dentro do período da renovação da carta).

Ele voltou para o seu carro, fez sei lá o que, demorando por alguns instantes, e voltou com um papel na mão. “Então, senhor. O senhor é estrangeiro, entendo, deve ser difícil entender algumas coisas. Mas lembre-se, aquele trecho só é permitido virar a partir das 19 horas, ok? Você estava indo passear? Nos desculpe pelo incômodo”.

Acenei com a cabeça, com um sorriso claramente aborrecido.

Eles voltaram para o seu carro, para aquela coisa pintada de preto e branco e ostentando a palavra “POLICE”, e seguiram o seu caminho.

É mole isso? Aguardavam algum idiota cometer a mais ridícula das infrações para tacar-lhe uma multa, sem a menor piedade, sem sequer considerar apenas uma advertência.

Tem quem concorde. Porém, eu, considero nada menos que uma extorsão legalizada. É a máfia do Estado japonês fazendo o trabalho sujo, sem o menor senso das proporções.

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